Por um sínodo do e no coração

O coração é o órgão do corpo humano mais falado e mais simbolizado. Embora não seja visto, como as mãos, os pés e a cabeça, por ser um órgão interno, ele é o órgão queridinho do povo. Eu mesmo nunca vi o meu coração, mesmo assim, o amo de paixão. Ele sempre “tem razões que a própria razão desconhece”, como dizia Blaise Pascal. Cada um de nós tem o coração que pode, merece e deseja: coração “bom”, “ruim”, “vagabundo”, “selvagem”, “bobo”, “espinhado”, “indiviso”, “valente”, “de cristal”, “de bailarina”, “de chiclete”, “imaculado”, “santo”, “pecador”, ”dividido entre a esperança e a razão”, entre muitos outros.

É destas razões do coração que quero me referir para falar do Sínodo que estamos celebrando nas nossas Igrejas Particulares, como o Sínodo do coração ou no coração. Ele pode até parecer um fardo e um peso a mais, uma obrigação e um compromisso a mais, entre os outros, sobre os nossos ombros, já sobrecarregados com tantos afazeres. Nosso Deus tem coração. Jesus Cristo, manso e humilde de coração, que amou com coração humano (GS 22), ao ver os cansados e abatidos, decidiu tirar os seus fardos e os seus pesos; e, nos seus lugares, colocar o seu alívio, a sua suavidade e a sua leveza. E pediu-nos que aprendêssemos dele (Mt 11,28-30). O mesmo ele dirá sobre este Sínodo. Este é um Sínodo para ser vivenciado como e na leveza institucional. Nada de pesos, de choros, de reclamações.

Para exemplificar o que estou afirmando, vou contar um “causo” que aconteceu comigo. Um dia, nos meus diálogos noturnos, me peguei a me queixar a Deus, dizendo-lhe que gostaria de convocar uma Assembleia Sinodal, em comemoração aos vinte e cinco anos da Arquidiocese de Palmas, mas estava em dúvida se haveria adesão plena dos corações. De repente, me apareceu o Papa Francisco e me disse: “Não se preocupe, Dom Pedro. Pode deixar. Fique tranquilo. Eu mesmo vou convocar uma Assembleia Sinodal para toda a Igreja”. Quando acordei, fui comunicado que ele havia convocado o Sínodo. E assim se fez. E estamos nesta fase.

            O meu coração pastoral é um coração sinodal. Três elementos julgo necessários para um Sínodo do e no coração:

  1. A IDENTIDADE, A IDENTIFICAÇÃO: Tudo na vida é questão de identidade e de identificação. É a identificação que produz o encantamento. A minha identificação com o Sínodo me provoca o encantamento. E o encantamento está na base de tudo na nossa vida. Deste Sínodo sou um encantado, um soldado, um militante, um discípulo missionário, um timoneiro e um verdadeiro guia espiritual. Este Sínodo me representa. Este Sínodo é minha RG, meu CPF, meu Passaporte e minha CNH espirituais. #Sou mais Sínodo!” Na Igreja e na missão não consigo caminhar sozinho. Só consigo caminhar junto com os irmãos e as irmãs. “Sozinhos podemos ir depressa, mas para ir longe precisamos de companhia” (Padre Paulo Terroso). Só consigo caminhar juntos com os irmãos e as irmãs. É o homem ou a mulher, inteiro, que é Sínodo quando o seu coração é sinodal. Sou, neste Sínodo, o homem com o cântaro de água (Mc 14,13). Sou igual a Pedro e a André, lançando as redes; sou como Tiago e como João, lavando e consertando as redes (Mt 4,18-22). A identificação compreende a primeira palavra do tema do Sínodo: a COMUNHÃO. O Sínodo é a essência da Igreja. E este Sínodo, particularmente, é a novidade do catolicismo, neste tempo de quase pós-pandemia. Quando tudo parecia escuro e sem saída, brilhou uma nova luz no horizonte. Ele será único e sem precedente histórico. Portanto, minha maior alegria é colocar Palmas nos braços do Sínodo. É o melhor que ocorreu na nossa vida. É o melhor presente para o nosso Jubileu. Tudo com identificação, nada sem identificação!
  2. A GRAÇA: Tudo na vida cristã é questão de graça. Nada sou sem a graça de Deus. Este Sínodo é uma graça derramada nos nossos corações, nos corações das nossas Igrejas. “Teresa, sem a graça de Deus, é uma pobre mulher; com a graça, é uma força e uma potência” (Santa Teresa). Escutar as pessoas é uma arte. É uma graça. Ouvir é captar sons; escutar é internalizar, é dialogar. A graça corresponde à segunda palavra do tema deste Sínodo: a PARTICIPAÇÃO. Colhemos com a identificação, a graça divina. Sou devoto do Espírito Consolador. “Consolar” é oferecer solo, colo, apoio e ajuda a quem precisar. Nossa missão, em quanto ouvintes, é abrir caminhos, simplificar a linguagem, ajudar no entendimento, favorecer o diálogo. Unidos no mesmo querer, na missão de aproximar os dispersos e os distantes, e os que estão às margens e nas periferias de nossas solicitudes pastorais, sair de si, ir ao encontro do outro, não por competição ou vanglória, somente se faz por meio da empatia, da incidência e da expertise. Tudo com a graça. Nada sem a graça!
  3. OS FRUTOS DO ESPÍRITO: Tudo na vida o que se planta floresce e frutifica. O maior fruto deste Sínodo será uma virada eclesial. Este Sínodo abrirá portas, nunca antes abertas, para grandes e profundas mudanças. Este será o Sínodo para a Igreja ir a outras margens. Colheremos, com a identificação e com a graça, os bons frutos sinodais. E os frutos que almejamos correspondem à terceira palavra do tema do Sínodo: a MISSÃO. Neste Sínodo, como na vida, há o lado A e o lado B, o lado bom e o lado ruim. Vamos trabalhar mais o lado A, o seu lado bom. Vamos gastar mais as nossas energias acumuladas, usar mais as nossas potencialidades, possibilidades e criatividades adquiridas, exercer mais os nossos ministérios recebidos e, por graças, implantar uma Igreja, em estilo mais sinodal possível. Que este seja o Sínodo do nosso coração e no nosso coração, do encontro, da inclusão, da saída, da escuta e do discernimento. No final de todo este processo de encontrar, de escutar e de discernir, como quer o Papa Francisco, proponho, por conta e risco meu, a tomada de decisão ou as tomadas de decisões. Para que tudo isto aconteça, “conservemos a doce e confortadora alegria de evangelizar (…) não através de evangelizadores tristes e desalentados, impacientes ou ansiosos, mas através de ministros do Evangelho, cuja vida irradia o fervor de quem recebeu, antes de tudo em si mesmos, a alegria de Cristo…” (DA 552). Os frutos deste Sínodo certamente serão os fortalecimentos da participação dos leigos, através dos Conselhos Pastorais, Econômicos, Missionários e outros. Que no final de todo este processo, possamos bater no peito e dizer: “o povo de Deus foi ouvido e se manifestou!” Tudo com frutificação. Nada sem frutificação!

É, portanto, hora de abrirmos as portas e as janelas das mentes e dos corações para as novidades do Espírito. Na verdade, o Sínodo faz-nos uma única pergunta: “Como estamos vivendo, caminhando, rezando e trabalhando juntos?” É sinodal este jeito de ser Igreja e este estilo de vida eclesial? As demais perguntas fazem parte dos eixos-temáticos desta mesma e única pergunta. Na Oração Eucarística V, rezamos:  “e a N., que é bispo desta Igreja, muita luz para guiar o seu rebanho”. Caminhemos juntos, lado a lado, com o coração no Sínodo e com o Sínodo no coração.

 

 

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